sexta-feira, 25 de março de 2016

Geléia à Paulista – Um Tour por São Paulo, o Show do Pearl Jam e Um Pouco de David Foster Wallace


As aventuras de dois cearenses em São Paulo para realizar o sonho de ver a apresentação de uma das maiores bandas de rock do mundo.

O Pearl Jam e seus integrantes, da direita para a esquerda: Boom Gaspar, Mike McCready, Jeff Ament, Eddie Vedder, Matt Cameron e Stone Gossard. (Foto: Blog Novo)
Por Eduardo Fontenele

Era a quarta vez que o Pearl Jam se apresentaria no Brasil, mas era a primeira vez em minha vida que eu iria assistir ao show dos meus heróis da adolescência. Era uma chance única. Parcelei o ingresso e a passagem para São Paulo em uma dezena de vezes. Sonhos não são de graça.

Eu e Laila Coelho (minha namorada), iríamos sozinhos, minha mãe (Fátima Fontenele), que iria conosco, preferiu ficar em casa desta vez. Era a segunda vez que íamos para a capital paulista, mas agora era para realizar um desejo antigo. Botei na cabeça há anos que não podia morrer sem ter assistido a uma apresentação do PJ. Meio dramático, mas dá uma ideia exata do que a banda significa para mim.

Saímos de casa às 17h58. Pegamos um engarrafamento na Avenida Rui Barbosa. A Rua Soriano Albuquerque estava tranquila, porém a Avenida Aguanambi estava engarrafada. Chegamos ao Aeroporto Internacional de Fortaleza - Pinto Martins, o único da cidade, às 18h29. Despachamos uma mala às 18h40min. Entramos na Sala de Embarque 20h49. O detector de metais do aeroporto apitou comigo.

Soubemos que o voo só sairia 21h40. Às 21h11 veio o anúncio de que o voo atrasaria novamente e só sairia 22h30. Depois outro atraso, o voo sairia 22h53. Após uma espera que pareceu infinita, e presenciar a grande tensão dos passageiros em relação aos funcionários da companhia aérea devido aos atrasos constantes, por fim embarcamos às 22h53.

Eu estava nervoso, como se fosse a primeira vez que voava. Mas após uma meia hora desde a decolagem, relaxei. Depois de muitas tentativas, consegui cochilar durante o voo. Pousamos 3h20min no Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo.

Pegamos um táxi de uma das companhias que operam no aeroporto. A viagem foi tranquila, devido ao horário não havia muito trânsito. Chegamos ao nosso destino 4h04. Apenas Aline Quintão (minha cunhada), foi nos receber. Estávamos cansados e logo fomos dormir.

No dia seguinte, após o desjejum, fomos passear. Saímos do apartamento 11h55. Circulamos por diversos lugares do centro da capital à pé. A primeira parada foi na Galeria do Rock. A galeria, como era de se esperar, estava tomada pelos jovens. Todos com visual “descolado”, com cabelos coloridos, repletos de tatuagens e indumentária de acordo com a tribo à qual pertencem e se identificam. É forte o fenômeno das tribos urbanas na capital paulista.

Os jovens de São Paulo gostam de se diferenciar, ao contrário da juventude de Fortaleza, que parece temer a ousadia e a opinião alheia. As tribos demonstram viver em harmonia, sem desacordo. Há os punks, os metaleiros, os skatistas, os góticos, os apreciadores do hip hop. Comprei uma camiseta da banda que iríamos assistir amanhã, o Pearl Jam; e Laila, minha companheira nesta viagem, adquiriu duas, cujas estampas fazem referência aos clássicos do cinema norte-americano, O Poderoso Chefão (1972) e Scarface (1983).
Na Galeria do Rock. (Foto: Laila Araújo Coelho)
A galeria fica entre a Rua 24 de Maio e o Largo do Paissandu, no número 62, no centro velho. Foi fundada em 1963, como Shopping Center Grandes Galerias, mas que depois ganhou a alcunha de Galeria do Rock por seus frequentadores. Nos anos 70 várias lojas de disco se instalaram na galeria, atraindo um público interessado em rock. É um edifício de arquitetura peculiar, que lembra o efeito causado pelas ondas do mar.

O prédio possui quatro andares, onde, no subsolo, há salões de cabelereiro e lojas de hip hop. No térreo, há lojas de skate; no primeiro andar há várias opções de roupas e acessórios para os jovens, como mochilas, bottons, canecas personalizadas, mini estátuas colecionáveis de personagens e personalidades da cultura pop etc. No segundo andar predominam as lojas de disco de rock; o terceiro andar possui o mesmo tipo de comércio do primeiro e no quarto andar ficam as lojas de serigrafia e de tatuagens, que existem nos outros andares também. Ao todo são 450 estabelecimentos comerciais. A média de visitantes por dia na galeria é de 20 mil pessoas.

Fomos almoçar em um restaurante chamado Restaurante do Bancário, às 13h31. O almoço, e o papo, se estenderam até 14h30. E me custou R$ 27,97. Após a refeição entramos no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), vimos a exposição ComCiência, da escultora australiana Patricia Piccinini.

A artista nasceu em Serra Leoa, África, em 1965, e mudou-se com a família para a Austrália com sete anos. Estudou artes plásticas na Faculdade de Artes Victoria de Artes de Melbourne, após conseguir a graduação, coordenou por dois anos o projeto Basement Gallery. Então passou a expor suas obras em galerias e museus. Recebeu prêmios prestigiados em seu país.

A exposição era gratuita. As esculturas causavam estranhamento, eram aberrações criadas pela engenharia genética. Fiquei imaginando se teria pesadelos por algumas noites com aquelas criaturas de silicone e fibra de vidro. Tamanho era o realismo e a monstruosidade das peças. O CCBB fica na Rua Álvares Penteado, 112, ainda no centro. Saímos da exposição 15h09.
(Foto: Laila Araújo Coelho)

(Foto: Laila Araújo Coelho)

Continuamos nosso passeio até 17h10. Voltamos ao apartamento, tomamos banho, trocamos a roupa suada e eu fui ver TV. Paulo Marcelo Fontenele, meu irmão, chegou do trabalho no início da noite, às 19h. Com seu jeito despojado de sempre, ele me parabenizou... Esqueci de dizer, naquele dia, eu completava 37 anos. Decidimos pedir pizza para o jantar. Chovia forte, então não saímos para comer fora.

Eu, Marcelo e Aline debatemos sobre a ideologia política de alguns familiares e amigos. Também discutimos um pouco sobre as diferenças entre o neoliberalismo (de partidos como o PSDB) e o comunismo (do PT). Os dois compartilham de minha visão esquerdista da política. Por isso não entramos em discordância. Laila estava amuada.

O SEGUNDO DIA – DIA DO SHOW (14/11/2015)

Dormimos até um pouco depois das dez da manha, tomamos café e fomos ao famoso Parque do Ibirapuera. Que fica na Avenida Álvares Cabral, no Bairro da Vila Mariana. Fomos eu, Laila, Aline e Marcelo. Fazia calor. Fomos à Oca, lá estava havendo uma mostra de cinema e outra sobre os figurinos das produções televisivas da Rede Globo.

A Oca é um prédio belo e moderno, projetado pelo saudoso arquiteto carioca Oscar Niemeyer, em 1951, mas inaugurado três anos depois, com 10.537,36 m². Seu nome oficial é Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, mas é mais conhecida por seu “apelido”, devido à sua semelhança com uma moradia indígena. “Oca” é um nome tupi-guarani. A Oca é constituída de subsolo, térreo, e dois pavimentos superiores.

No subsolo estava ocorrendo uma mostra de cinema. O auditório possui 129 assentos para os espectadores. No térreo estava ocorrendo a exposição com adereços e cenários de produções globais. Exposição que não despertou meu interesse. Subimos por uma rampa e fomos ao primeiro pavimento, onde estava ocorrendo a projeção de outra obra cinematográfica.
Oca (Foto: Site Revista EcoPágina)

Depois fomos ao MAM (Museu de Arte Moderna), que achei um museu muito tedioso e decadente. Foram os R$ 9 mais mal gastos de minha vida. Essa foi minha impressão sobre o museu e sua exposição. Decidimos nos apressar, pois já passava do horário do almoço e tínhamos um show para ir à noite.

Almoçamos filé à parmegiana, com batatas fritas e refrigerante. Então voltamos ao apartamento do meu irmão, para começar a nos arrumar para o programa desta noite. Ao final da tarde embarcamos em um ônibus para o Estádio do Morumbi, onde o show ocorreria, estava um calor escaldante dentro do ônibus de janelas tão altas que os passageiros não tinham como se aliviar com uma brisa sequer.

O Estádio do Morumbi, ou Estádio Cícero Pompeu de Toledo, é o maior estádio particular do Brasil, é propriedade do São Paulo Futebol Clube. Foi palco de grandes eventos esportivos e artísticos, como os shows de Paul McCartney, U2, Queen, Madonna, Michael Jackson, Metallica, Nirvana, Eric Clapton, Rush etc. O Estádio do Morumbi foi inaugurado em 1960, possui área de 102.904 m², seu campo mede 108,25 metros de comprimento por 72,70 metros de largura. Possui 15 cabines para rádio e TV, 81 pontos de vendas para bebidas e lanches, 105 guichês para venda de ingressos, centro médico com 5 ambulâncias. Possui um setor exclusivo para deficientes físicos com 470 m², espaço para 92 cadeiras de rodas e 108 lugares destinados a portadores de outras formas de deficiência. O estádio possui 51 banheiros. Uma impressão que tive dos banheiros do estádio quando adentramos o local: um antro de fedentina, sujo e mal cuidado. Vergonhoso o estádio de um dos maiores times do Brasil ser tão desleixado em relação à higiene e prestar um péssimo serviço destes a seus usuários.
Estádio do Morumbi (Foto: Site Zap)

Pegamos uma longa fila para entrar no estádio. Aline e Laila, minhas duas únicas acompanhantes desta noite, bebiam, e eu permaneci abstêmio. Pois não ingiro bebidas alcoólicas desde o réveillon de 2011. Nós discutimos sobre relacionamentos amorosos, principalmente a relação de nossos anfitriões.

Deixei escapar um comentário machista sobre as mulheres que ouvem rock. Dei a entender que mulheres que gostam de rock, o fazem por terem parceiros que apreciam esse estilo de vida, e de música. Não ouvem o estilo musical por gostarem, entenderem e conhecerem, mas por influência do seu amado. Aline prontamente me criticou, sutilmente, é claro.
Eu e Laila durante o show. (Foto: Laila Araújo Coelho)

Já dentro do estádio, poucos minutos após nos sentarmos, nas arquibancadas, exatamente às 20h30, o show teve início. Não houve show de abertura. Nunca havia visto banda mais pontual, seriam verdadeiros britânicos, se não fossem verdadeiros americanos. E que banda! Todos os músicos estavam afiados, precisos, bem ensaiados. “A voz dele é impecável!”, como apontou Aline sobre o vocalista Eddie Vedder.

O show iniciou com Long Road, do EP Merkin Ball, de 1995, fruto da parceria com o lendário músico canadense Neil Young. Seguida de Off the Girl (Binaural, 2000) e Love Boat Captain (Riot Act, 2002). A primeira explosão ocorreu com a interpretação de Do the Evolution, o hit de 1998, do álbum Yield. O estádio veio abaixo. Quase literalmente. Todos pulavam enlouquecidamente. O estrago continuou com Hail, Hail (do álbum No Code, de 1996), Why Go (do Ten, de 1991), Whipping e Corduroy (do Vitalogy, 1994). As outras explosões vieram com as canções Even Flow e Alive, ambas do melhor álbum da banda, Ten.

Canções obrigatórias no setlist da banda, como I Am Mine (Riot Act, 2002) e Jeremy não foram esquecidas, além das pesadas Deep e Porch, também a raivosa State Love and Trust, todas do álbum Ten. E ainda a acelerada Rearview Mirror, do disco Vs., de 1993.

Agora outra opinião pessoal, tenho uma queixa em relação à escalação do repertório, senti falta de duas canções as quais me apeguei, ouvindo-as pelo Youtube©, já que não tenho o CD que as contém, são elas Amongst the Waves e Unthought Known, do disco Backspacer, de 2009.

Durante a execução de Given to Fly (Yield), comentei com minhas acompanhantes que existe uma história envolvendo esta canção e Going to California, do álbum Led Zeppelin IV, de 1971. Segundo o próprio Robert Plant, ex-vocalista do Led Zeppelin, de 67 anos, houve uma forte relação de “influência” zeppeliana nesta canção. Provavelmente um plágio. A introdução da música dos americanos soa quase como uma cópia do clássico dos ingleses. Os membros do Pearl Jam nunca esconderam a admiração que nutrem pelo Zeppelin, inclusive, citando-o entre suas influências musicais, assim como as bandas: The Who, The Doors, os punks do Ramones, Jimi Hendrix, e Neil Young.

Mas polêmicas à parte, o repertório reservou espaço ainda para as baladas açucaradas, como Betterman, do álbum Vitalogy (que considero uma bela canção e um grande álbum). Neste momento fui remetido ao ano de 1994 ou 1995, quando ouvi pela primeira vez uma canção do Pearl Jam. Foi Betterman, o disco Vitalogy me causou profunda impressão. O disco havia sido dado de presente a Marcelo por um amigo. A arte do disco era primorosa e as músicas idem. Eu nunca havia ouvido alguém cantar daquela forma, então a identificação foi imediata. Fui em busca de outros discos da banda e logo adquiri Ten, que era ainda melhor que Vitalogy. A maneira de Vedder cantar estava ainda mais visceral neste disco. Vedder deve muito de seu estilo vocal à voz de barítono de Jim Morrison, líder dos Doors. 
Eddie Vedder (Foto: Site Bol)

Pouco depois, comecei a fazer aulas de violão clássico, com a intenção de passar para a guitarra assim que tivesse adquirido mais domínio sobre a teoria musical. Estudei violão por um ano. Eu estava decidido a possuir uma banda, mas que, infelizmente, não foi para frente devido à nossa inépcia – eu e meus dois colegas -, e falta de talento como músicos, porém ficou a admiração pelos meus heróis da adolescência, com suas letras autobiográficas (uma boa parte das letras de Vedder pode ser categorizada desta forma), pela técnica vocal apurada deste e os solos virtuosos de Mike McCready, claramente influenciados por Jimi Hendrix.

Agora voltando ao palco, McCready não decepcionou um só momento, dando um show à parte. O guitarrista, como sempre reparei em apresentações assistidas pelo Youtube© e pela TV, não erra uma só nota, e toca exatamente como se estivéssemos ouvindo um CD da banda. Fato também apontado por minha prolixa acompanhante, Aline. Infelizmente, esse tipo de problema acontece com muitos músicos ao se apresentarem ao vivo, conheço várias pessoas que já se disseram decepcionadas com seus ídolos ao vê-los ao vivo, devido a não corresponderem a suas expectativas, por não serem bons músicos ou por não terem presença de palco. A idade (49 anos) não diminuíra em nada o talento e o feeling de McCready, e nem de seus colegas de banda.

Stone Gossard, 49, com sua discreta guitarra rítmica, apresenta seu groove em várias canções. Sua contribuição para o som da banda pode ser percebida nas canções com influência do estilo musical funk, o americano, e não o brasileiro, que são bem diferentes. Jeff Ament, 53, é outro membro discreto da trupe, seu baixo é pouco ouvido, devido à utilização de três guitarristas sobra pouco espaço para seu instrumento se destacar, com exceção de algumas canções, onde ganha mais espaço. A introdução de Jeremy, por exemplo, toda focada no baixo, é icônica.

Eddie Vedder também impressionou no show por sua vitalidade, apesar de seus 51 anos, o cantor, multi-instrumentista e principal compositor da banda, desculpem o clichê, mas “ainda tem muita lenha para queimar”. Vedder vem de bem sucedidos trabalhos solo, compôs a trilha do filme Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2008), do diretor Sean Penn. Além de seus dois discos solo, que obtiveram boa acolhida da crítica, Water on the Road (2008) e Ukulele Songs (2011).

O nome Pearl Jam veio de uma referência à vida pessoal de Eddie Vedder, que tinha uma bisavó chamada Pearl (Pérola), que era casada com um índio americano, e que fazia uma geléia alucinógena, com peiote entre seus ingredientes, apelidada pela família de “Geléia de Pérola”. Em 2006, o vocalista admitiu em uma entrevista para a revista Rolling Stone que essa história era mentira, embora sua bisavó se chamasse mesmo Pearl. O PJ nasceu de uma banda anterior, que encerrou suas atividades devido à morte do vocalista por overdose de heroína, a banda era o Mother Love Bone, e o vocalista era Andrew Wood. O grupo surgiu em 1990. Todos os membros da banda residiam em Seattle, Washington.

A Seattle da década de 90 foi onde floresceu o movimento grunge, que surgiu na década anterior, mas só ganhou visibilidade internacional nos anos 90. O termo “grunge” significa, em tradução livre, “sujo”. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1981 por Mark Arm, vocalista do Green River, que depois iria fundar o Mudhoney. Arm se referia à banda Mr. Epp and the Calculators, citando-a de forma pejorativa em uma carta que enviou a um veículo de comunicação.

O movimento foi encabeçado por bandas como Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden e o próprio Pearl Jam. As letras das canções retrataram uma geração dominada pela apatia, angústia e pelo abuso de drogas. O grunge, ou som de Seattle, era um subgênero do rock alternativo que sofreu influência do punk, do heavy metal e do indie rock. Bandas como Pixies, Dinosaur Jr., Goo Goo Dolls, Sonic Youth, Led Zeppelin, Black Sabbath, Butthole Surfers e Bauhaus tiveram forte influência no gênero musical. O estilo era caracterizado como possuindo um andamento arrastado, muita distorção nas guitarras e som cru.

Os dois discos seminais do movimento foram o Nevermind (1991), do Nirvana, e o Ten, do PJ, do mesmo ano. O single Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, abriu as portas para a histeria grunge que tomou as rádios e a MTV no início da década de 90. Seattle passou a ser considerada a nova Meca para onde todos os roqueiros peregrinavam em busca do sucesso comercial. A cidade foi apelidada pela revista Rolling Stone como “a nova Liverpool”, em referência à cidade inglesa que foi o berço de bandas como os Beatles. 

Kurt Cobain (líder do Nirvana) sentia-se incomodado com a fama, assim como Eddie Vedder. Ambos passaram a sabotar o próprio sucesso com atitudes anticomerciais, que desabonavam suas respectivas bandas diante da mídia e dos fãs.

Em 1994, Cobain foi encontrado morto em sua casa com um ferimento à bala na cabeça, especula-se até hoje se foi suicídio ou se uma das diversas teorias conspiratórias explicariam o fim do líder do Nirvana. Sua banda se desfez logo após esse fato. Cobain fora apelidado pela revista Time como “o John Lennon do oscilante noroeste”. Após a morte de Cobain, o baterista e multi-instrumentista do Nirvana, Dave Grohl, 47, formou o Foo Fighters, que segue agradando os amantes do barulho pelo mundo.

O Soudgarden recentemente retomou suas atividades depois de um hiato de sete anos. Neste período, o vocalista Chris Cornell, 51, formou junto com os ex-membros do Rage Against the Machine a banda Audioslave, que fez sucesso nas rádios do planeta todo. Mas o projeto chegou ao fim devido a conflitos internos e Cornell retomou seu posto junto a seus parceiros de Soundgarden.

O Alice in Chains também retomou sua carreira depois da trágica morte de seu vocalista Layne Staley, de overdose de heroína, em 2002. Agora com o cantor William Duvall ocupando o lugar de Staley. Assim como Andrew Wood, Staley foi mais uma vítima da heroína. Wood deixara seus companheiros de Mother Love Bone sem seu frontman.    

Mas retomando a história da formação do PJ, os dois integrantes remanescentes do Mother Love Bone, o baixista Jeff Ament e o guitarrista Stone Gossard decidiram montar um novo conjunto. Gossard convidou seu amigo, o guitarrista Mike McCready, que estava sem banda, então os três gravaram uma fita demo. Depois a enviaram ao ex-baterista do Red Hot Chili Peppers, Jack Irons. Que conhecia um vocalista de San Diego, chamado Eddie Vedder. Eles enviaram uma fita com cinco músicas para o cantor/surfista/budista da Califórnia. Ele colocou letras e o vocal em três músicas e enviou a fita de volta a Seattle. As gravações impressionaram Gossard, McCready, Ament e Irons, então eles o convidaram a se juntar ao novo projeto.

No mesmo ano, Chris Cornell, do Soundgarden, abordou Gossard e Ament com duas músicas que ele havia composto em tributo a seu amigo Andrew Wood. Ele queria lançá-las comercialmente. O Temple of the Dog lançou um único disco, com Vedder dividindo os vocais com Cornell e todos os futuros integrantes do Pearl Jam acompanhando, menos o baterista Jack Irons. Em seu lugar, quem tocou a bateria foi Matt Cameron, do Soundgarden, e o atual dono das baquetas do PJ.

Desde 1991, quando ocorreu o estrondoso sucesso de Ten, o primeiro álbum do grupo, no auge do movimento grunge, passaram pela banda os bateristas Dave Krusen, Dave Abruzzese, e houve um retorno de Irons a seu posto, mas logo deixou novamente o grupo, então Cameron entrou para a formação, ele agora se divide entre o Soundgarden e o Pearl Jam. Hoje, a banda excursiona com mais um integrante, o tecladista havaiano Boom Gaspar, de 63 anos.

Outros fatos dignos de nota sobre a banda foram sua batalha contra a Ticketmaster e por ter restringido as entrevistas para a imprensa e a recusa em produzir videoclipes no auge da fama. A Ticketmaster é a empresa que controla as vendas e distribuição de ingressos de shows nos EUA, a companhia possui o monopólio deste mercado. Durante a turnê do disco Vs., o PJ, para evitar as ações dos cambistas, estipulou um limite para os preços dos ingressos de seus shows. A banda se enfureceu ao saber que a Ticketmaster havia adicionado uma taxa de serviço ao valor dos ingressos de seus shows em Chicago. Prática comum no Brasil também.

A Ticketmaster vinha sendo investigada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que pediu ao PJ para criar um memorando descrevendo sua relação com a empresa. Gossard e Ament foram convocados para depor em um subcomitê de investigação em Washington, D.C. A banda começou a boicotar a Ticketmaster, e passou a se recusar a tocar em locais que possuíssem contrato com a empresa, além de cancelar sua turnê de 1994. 
Neste período, a banda reduziu seus esforços promocionais, após o imenso sucesso do premiado vídeo de Jeremy, o PJ decidiu não produzir videoclipes para os singles de V.S. Esta recusa é justificada pelos músicos como uma forma de não tirar do ouvinte o prazer de imaginar cenas ligadas à canção que está tocando. Já que os vídeos impõem ao fã as imagens interpretadas pela visão do diretor da obra. Anteriormente, durante a divulgação de Ten, o grupo já havia recusado-se a produzir um vídeo para a balada Black, apesar da pressão da gravadora.

Durante o show no Morumbi ouvimos ainda outras baladas, como a canção anteriormente citada, a clássica Black (Ten), além de Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town, (Vs., 1993). Foi tocada também Sirens, do mais recente álbum da banda, Lightning Bolt, de 2013. Yellow Ledbetter, lado B do single de Jeremy. Outra opinião pessoal, odeio a balada Last Kiss, do álbum Lost Dogs: Rarities and B Sides, de 2003, ainda bem que eles não a tocaram, apesar de ser um grande hit da banda.

A execução desta leva de canções românticas motivou mais um comentário de Aline, que brincou: “A mulherada toda melando as calcinhas!”. Para quem não entendeu a piada, trata-se de uma referência à gíria “mela cueca”, utilizada para se referir ao efeito causado por músicas lentas e de temática amorosa.

Como já vinha sendo ameaçado há horas pelo céu nublado, no meio do show começou uma chuva que durou quarenta minutos, aproximadamente, deixando todos no estádio ensopados, poças surgiram nas cadeiras, pois havia muita gente de pé devido à empolgação de assistir à banda ao vivo. Inclusive nós. Por sorte havíamos comprado capas de chuva na entrada do estádio. Houve ainda uma paralisação do show por dez minutos devido a problemas técnicos.
O palco visto da arquibancada. (Foto: Laila Araújo Coelho)

O show durou impressionantes 3h10, com direito a vários bis, os músicos não demonstravam nenhum cansaço, e o público se manteve firme até o grand finale. Que foi apoteótico, com a execução da agitada Rockin´in the Free World, mais uma parceria com Neil Young. Foi marcante também o cover de Imagine, de John Lennon, com direito a coro do público, motivado pelos atentados terroristas contra a França, ocorridos um dia antes da apresentação do PJ, bem de acordo com a letra pacifista de Lennon.

Os ataques terroristas na cidade de Paris (França), causaram comoção no mundo todo, ocorreram no dia 13 de novembro em Paris e Saint-Denis. Os atentados se caracterizaram por ataques suicidas, explosões e uso de reféns. Ocorreram três explosões e seis fuzilamentos de civis. O ataque mais marcante foi no teatro Bataclan, onde terroristas fizeram vítimas e pegaram pessoas como reféns, a ação durou até a madrugada de 14 de novembro.

O atentado terrorista ocorreu durante a apresentação da banda norte-americana Eagles of Death Metal. Estima-se que morreram 129 pessoas, dentre elas 8 terroristas, e 89 pessoas no Bataclan. Mais de 350 civis ficaram feridos, 99 em estado grave. Os ataques foram perpetrados pelo famigerado grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque, o grande câncer do mundo moderno, em retaliação à intervenção militar francesa na Síria e no Iraque. Eddie Vedder deu a seguinte declaração (em português) durante o show sobre os atentados:

“Muito obrigado a todos por estarem aqui. Sentimos que precisamos estar com pessoas hoje e estamos felizes por estarmos com vocês em São Paulo. Nosso amor vai para Paris. Temos ainda muito a entender e superar juntos”.

O outro cover da noite foi All Along the Watchtower, de Bob Dylan, inspirado pela versão feita por Jimi Hendrix da música, que encerrou o show de forma apropriada e em grande estilo. Foi um belo apanhado da carreira da trupe, que possui 10 álbuns de estúdio, em uma longa carreira que já dura 25 anos. Antes de vir a São Paulo, a turnê brasileira passou por Porto Alegre (11). Após o show no Morumbi foram para Brasília (17), Belo Horizonte (20) e Rio de Janeiro (22).

Só uma curiosidade sobre a turnê brasileira, ela ocorreu na época da tragédia ambiental em Mariana. Durante o show em BH, Vedder discursou e prometeu doar o cachê da apresentação às vítimas do desastre. Eis o link para a notícia sobre a apresentação da banda.

Nos retiramos do estádio rapidamente e, por sorte, conseguimos imediatamente uma condução. Um ônibus passava na mesma hora em que atravessávamos a avenida. Pegar um táxi para o apartamento iria sair uma fortuna. Na volta para casa peguei uma grande briga com Laila, por motivos que não pretendo declinar, pois assuntos de casal só dizem respeito aos envolvidos. O que interessa é que logo fizemos as pazes e fomos para o apartamento de Marcelo. Ele se encontrava no apartamento de um amigo que vive no mesmo prédio. Aline foi trazê-lo de volta para casa e nós fomos para a residência do casal para jantar e dormir.

O DIA DA VOLTA PARA CASA (15/11/2015)

Após uma merecida noite de sono, acordamos tarde, tomamos o café da manhã e partimos quase imediatamente para o aeroporto. Durante o trajeto mantivemos uma conversa mais para passar o tempo do que para qualquer outra finalidade, enquanto nos dirigíamos ao nosso destino. Ao chegar, tiramos fotos, todos os quatro. Nos despedimos e, logo Laila e eu estaríamos embarcando para Fortaleza.
Da direita para a esquerda: Eu, Laila, Aline e Marcelo. (Foto: Laila Araújo Coelho)

No aeroporto, tiramos mais fotos, liguei para meus pais para nos apanharem no aeroporto, comemos algo e, desta vez, sem atrasos, embarcamos. No avião, lanchamos novamente. Eu tentei tirar um cochilo e não consegui. Nas pequenas televisões dentro do avião passava um episódio da série americana de comédia Friends, que esteve no ar de 1994 a 2004, e continua a ser reprisada em um canal a cabo. Laila e eu mantivemos um diálogo sobre os personagens e seus intérpretes dentro da série de TV. Eu disse que sonhava em viver dentro do mundo daqueles personagens fictícios e ingênuos, que eram todos amigos uns dos outros, além de jovens, bonitos, felizes, e sem grandes conflitos em suas vidas. Um verdadeiro mundo perfeito.

Chegamos em Fortaleza dentro do horário preestabelecido, no final da tarde. Danilo Fontenele, meu pai, nos aguardava no aeroporto. Ao chegarmos ao meu apartamento, Laila logo quis ir para sua casa e eu fui deixá-la em sua residência.

Esse texto é dedicado ao escritor estadunidense David Foster Wallace (1962-2008), leitura sem a qual esse relato não teria sido possível de ser realizado. Seus textos de não-ficção foram uma grande inspiração na forma como esse relato foi construído. Assim como as narrativas gonzo de Hunter S. Thompson (1937-2005), as digressões das reportagens literárias do novo jornalista Gay Talese (1932- ), e as matérias da revista eletrônica Vice.


SET LIST DO SHOW NO MORUMBI:


1. Long Road
2. Of the Girl
3. Love Boat Captain
4. Do the Evolution
5. Hail Hail
6. Why Go
7. Getaway
8. Mind Your Manners
9. Deep
10. Corduroy
11.
Lightning Bolt
12.
Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
13.
Even Flow
14.
Come Back
15.
Swallowed Whole
16.
Given to Fly
17.
Jeremy
18.
Better Man
19. Rearview mirror

1° bis

20. Footsteps
21. Imagine
(cover de John Lennon)
22. Sirens
23
. Whipping
24
. I Am Mine
25.
Blood
26. Porch

2° bis

27. Comatose
28.
State of Love and Trust
29.
Black
30
. Alive
31. Rockin' in the Free World
(cover de Neil Young)
32.
Yellow Ledbetter
33. All Along the Watchtower (cover de Bob Dylan)

OS ÁLBUNS DE ESTÚDIO DO PEARL JAM:

Ten (1991)

Vs. (1993)

Vitalogy (1994)

No Code (1996)

Yield (1998)

Binaural (2000)

Riot Act (2002)

Pearl Jam (2006)

Backspacer (2009)

Lightning Bolt (2013)