As
aventuras de dois cearenses em São Paulo para realizar o sonho de ver a apresentação de uma das
maiores bandas de rock do mundo.
O Pearl Jam e seus integrantes, da direita para a esquerda: Boom Gaspar, Mike McCready, Jeff Ament, Eddie Vedder, Matt Cameron e Stone Gossard. (Foto: Blog Novo) |
Por
Eduardo Fontenele
Era
a quarta vez que o Pearl Jam se apresentaria no Brasil, mas era a primeira vez
em minha vida que eu iria assistir ao show dos meus heróis da adolescência. Era
uma chance única. Parcelei o ingresso e a passagem para São Paulo em uma dezena
de vezes. Sonhos não são de graça.
Eu e
Laila Coelho (minha namorada), iríamos sozinhos, minha mãe (Fátima Fontenele), que
iria conosco, preferiu ficar em casa desta vez. Era a segunda vez que íamos
para a capital paulista, mas agora era para realizar um desejo antigo. Botei na
cabeça há anos que não podia morrer sem ter assistido a uma apresentação do PJ.
Meio dramático, mas dá uma ideia exata do que a banda significa para mim.
Saímos
de casa às 17h58. Pegamos um engarrafamento na Avenida Rui Barbosa. A Rua
Soriano Albuquerque estava tranquila, porém a Avenida Aguanambi estava
engarrafada. Chegamos ao Aeroporto Internacional de Fortaleza - Pinto Martins,
o único da cidade, às 18h29. Despachamos uma mala às 18h40min. Entramos na Sala
de Embarque 20h49. O detector de metais do aeroporto apitou comigo.
Soubemos
que o voo só sairia 21h40. Às 21h11 veio o anúncio de que o voo atrasaria
novamente e só sairia 22h30. Depois outro atraso, o voo sairia 22h53. Após uma
espera que pareceu infinita, e presenciar a grande tensão dos passageiros em relação aos funcionários da companhia aérea devido aos atrasos constantes, por fim embarcamos às 22h53.
Eu
estava nervoso, como se fosse a primeira vez que voava. Mas após uma meia hora
desde a decolagem, relaxei. Depois de muitas tentativas, consegui cochilar durante
o voo. Pousamos 3h20min no Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo.
Pegamos
um táxi de uma das companhias que operam no aeroporto. A viagem foi tranquila,
devido ao horário não havia muito trânsito. Chegamos ao nosso destino 4h04.
Apenas Aline Quintão (minha cunhada), foi nos receber. Estávamos cansados e
logo fomos dormir.
No
dia seguinte, após o desjejum, fomos passear. Saímos do apartamento 11h55.
Circulamos por diversos lugares do centro da capital à pé. A primeira parada
foi na Galeria do Rock. A galeria, como era de se esperar, estava tomada pelos
jovens. Todos com visual “descolado”, com cabelos coloridos, repletos de
tatuagens e indumentária de acordo com a tribo à qual pertencem e se
identificam. É forte o fenômeno das tribos urbanas na capital paulista.
Os
jovens de São Paulo gostam de se diferenciar, ao contrário da juventude de
Fortaleza, que parece temer a ousadia e a opinião alheia. As tribos demonstram
viver em harmonia, sem desacordo. Há os punks, os metaleiros, os skatistas, os
góticos, os apreciadores do hip hop. Comprei
uma camiseta da banda que iríamos assistir amanhã, o Pearl Jam; e Laila, minha
companheira nesta viagem, adquiriu duas, cujas estampas fazem referência aos
clássicos do cinema norte-americano, O
Poderoso Chefão (1972) e Scarface
(1983).
Na Galeria do Rock. (Foto: Laila Araújo Coelho) |
A galeria fica entre a Rua 24 de Maio e o Largo do Paissandu, no número 62, no
centro velho. Foi fundada em 1963, como Shopping Center Grandes Galerias, mas
que depois ganhou a alcunha de Galeria do Rock por seus frequentadores. Nos
anos 70 várias lojas de disco se instalaram na galeria, atraindo um público
interessado em rock. É um edifício de arquitetura peculiar, que lembra o efeito
causado pelas ondas do mar.
O
prédio possui quatro andares, onde, no subsolo, há salões de cabelereiro e
lojas de hip hop. No térreo, há lojas
de skate; no primeiro andar há várias opções de roupas e acessórios para os
jovens, como mochilas, bottons, canecas
personalizadas, mini estátuas colecionáveis de personagens e personalidades da
cultura pop etc. No segundo andar
predominam as lojas de disco de rock; o terceiro andar possui o mesmo tipo de
comércio do primeiro e no quarto andar ficam as lojas de serigrafia e de
tatuagens, que existem nos outros andares também. Ao todo são 450 estabelecimentos
comerciais. A média de visitantes por dia na galeria é de 20 mil pessoas.
Fomos
almoçar em um restaurante chamado Restaurante do Bancário, às 13h31. O almoço,
e o papo, se estenderam até 14h30. E me custou R$ 27,97. Após a refeição
entramos no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), vimos a exposição
ComCiência, da escultora australiana Patricia Piccinini.
A
artista nasceu em Serra Leoa, África, em 1965, e mudou-se com a família para a
Austrália com sete anos. Estudou artes plásticas na Faculdade de Artes Victoria
de Artes de Melbourne, após conseguir a graduação, coordenou por dois anos o
projeto Basement Gallery. Então
passou a expor suas obras em galerias e museus. Recebeu prêmios prestigiados em
seu país.
A
exposição era gratuita. As esculturas causavam estranhamento, eram aberrações
criadas pela engenharia genética. Fiquei imaginando se teria pesadelos por
algumas noites com aquelas criaturas de silicone e fibra de vidro. Tamanho era o
realismo e a monstruosidade das peças. O CCBB fica na Rua Álvares Penteado,
112, ainda no centro. Saímos da exposição 15h09.
(Foto: Laila Araújo Coelho) |
(Foto: Laila Araújo Coelho) |
Continuamos
nosso passeio até 17h10. Voltamos ao apartamento, tomamos banho, trocamos a
roupa suada e eu fui ver TV. Paulo Marcelo Fontenele, meu irmão, chegou do
trabalho no início da noite, às 19h. Com seu jeito despojado de sempre, ele me
parabenizou... Esqueci de dizer, naquele dia, eu completava 37 anos. Decidimos
pedir pizza para o jantar. Chovia forte, então não saímos para comer fora.
Eu,
Marcelo e Aline debatemos sobre a ideologia política de alguns familiares e
amigos. Também discutimos um pouco sobre as diferenças entre o neoliberalismo
(de partidos como o PSDB) e o comunismo (do PT). Os dois compartilham de minha
visão esquerdista da política. Por isso não entramos em discordância. Laila
estava amuada.
O
SEGUNDO DIA – DIA DO SHOW (14/11/2015)
Dormimos
até um pouco depois das dez da manha, tomamos café e fomos ao famoso Parque do
Ibirapuera. Que fica na Avenida Álvares Cabral, no Bairro da Vila Mariana.
Fomos eu, Laila, Aline e Marcelo. Fazia calor. Fomos à Oca, lá estava havendo uma
mostra de cinema e outra sobre os figurinos das produções televisivas da Rede
Globo.
A
Oca é um prédio belo e moderno, projetado pelo saudoso arquiteto carioca Oscar
Niemeyer, em 1951, mas inaugurado três anos depois, com 10.537,36 m². Seu nome
oficial é Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, mas é mais conhecida por seu
“apelido”, devido à sua semelhança com uma moradia indígena. “Oca” é um nome
tupi-guarani. A Oca é constituída de subsolo, térreo, e dois pavimentos
superiores.
No
subsolo estava ocorrendo uma mostra de cinema. O auditório possui 129 assentos
para os espectadores. No térreo estava ocorrendo a exposição com adereços e
cenários de produções globais. Exposição que não despertou meu interesse. Subimos
por uma rampa e fomos ao primeiro pavimento, onde estava ocorrendo a projeção
de outra obra cinematográfica.
Oca (Foto: Site Revista EcoPágina) |
Depois
fomos ao MAM (Museu de Arte Moderna), que achei um museu muito tedioso e
decadente. Foram os R$ 9 mais mal gastos de minha vida. Essa foi minha
impressão sobre o museu e sua exposição. Decidimos nos apressar, pois já passava
do horário do almoço e tínhamos um show para ir à noite.
Almoçamos
filé à parmegiana, com batatas fritas e refrigerante. Então voltamos ao
apartamento do meu irmão, para começar a nos arrumar para o programa desta
noite. Ao final da tarde embarcamos em um ônibus para o Estádio do Morumbi,
onde o show ocorreria, estava um calor escaldante dentro do ônibus de janelas
tão altas que os passageiros não tinham como se aliviar com uma brisa sequer.
O
Estádio do Morumbi, ou Estádio Cícero Pompeu de Toledo, é o maior estádio
particular do Brasil, é propriedade do São Paulo Futebol Clube. Foi palco de
grandes eventos esportivos e artísticos, como os shows de Paul McCartney, U2,
Queen, Madonna, Michael Jackson, Metallica, Nirvana, Eric Clapton, Rush etc. O
Estádio do Morumbi foi inaugurado em 1960, possui área de 102.904 m², seu campo
mede 108,25 metros de comprimento por 72,70 metros de largura. Possui 15
cabines para rádio e TV, 81 pontos de vendas para bebidas e lanches, 105
guichês para venda de ingressos, centro médico com 5 ambulâncias. Possui um
setor exclusivo para deficientes físicos com 470 m², espaço para 92 cadeiras de
rodas e 108 lugares destinados a portadores de outras formas de deficiência. O
estádio possui 51 banheiros. Uma impressão que tive dos banheiros do estádio
quando adentramos o local: um antro de fedentina, sujo e mal cuidado.
Vergonhoso o estádio de um dos maiores times do Brasil ser tão desleixado em
relação à higiene e prestar um péssimo serviço destes a seus usuários.
Estádio do Morumbi (Foto: Site Zap) |
Pegamos
uma longa fila para entrar no estádio. Aline e Laila, minhas duas únicas
acompanhantes desta noite, bebiam, e eu permaneci abstêmio. Pois não ingiro
bebidas alcoólicas desde o réveillon de 2011. Nós discutimos sobre
relacionamentos amorosos, principalmente a relação de nossos anfitriões.
Deixei
escapar um comentário machista sobre as mulheres que ouvem rock. Dei a entender
que mulheres que gostam de rock, o fazem por terem parceiros que apreciam esse
estilo de vida, e de música. Não ouvem o estilo musical por gostarem,
entenderem e conhecerem, mas por influência do seu amado. Aline prontamente me
criticou, sutilmente, é claro.
Eu e Laila durante o show. (Foto: Laila Araújo Coelho) |
Já
dentro do estádio, poucos minutos após nos sentarmos, nas arquibancadas,
exatamente às 20h30, o show teve início. Não houve show de abertura. Nunca
havia visto banda mais pontual, seriam verdadeiros britânicos, se não fossem
verdadeiros americanos. E que banda! Todos os músicos estavam afiados,
precisos, bem ensaiados. “A voz dele é impecável!”, como apontou Aline sobre o
vocalista Eddie Vedder.
O
show iniciou com Long Road, do EP Merkin Ball, de 1995, fruto da parceria
com o lendário músico canadense Neil Young. Seguida de Off
the Girl (Binaural, 2000) e Love Boat Captain (Riot Act, 2002). A primeira explosão ocorreu com a
interpretação de Do the Evolution, o hit de 1998, do álbum Yield. O estádio veio abaixo. Quase
literalmente. Todos pulavam enlouquecidamente. O estrago continuou com Hail, Hail (do álbum No Code, de 1996), Why Go (do Ten, de 1991), Whipping e Corduroy (do Vitalogy, 1994). As outras explosões vieram com as canções Even Flow e Alive, ambas do melhor álbum da banda, Ten.
Canções
obrigatórias no setlist da banda,
como I Am Mine (Riot Act, 2002) e Jeremy
não foram esquecidas, além das pesadas Deep
e Porch, também a raivosa State Love and Trust, todas do álbum Ten. E ainda a acelerada Rearview
Mirror, do disco Vs., de 1993.
Agora
outra opinião pessoal, tenho uma queixa em relação à escalação do repertório,
senti falta de duas canções as quais me apeguei, ouvindo-as pelo Youtube©, já que não tenho o CD que as contém,
são elas Amongst the Waves e Unthought Known, do disco Backspacer, de 2009.
Durante
a execução de Given to Fly (Yield), comentei com minhas
acompanhantes que existe uma história envolvendo esta canção e Going to California, do álbum Led Zeppelin IV, de 1971. Segundo o próprio Robert Plant, ex-vocalista do Led
Zeppelin, de 67 anos, houve uma forte relação de “influência” zeppeliana nesta
canção. Provavelmente um plágio. A introdução da música dos americanos soa
quase como uma cópia do clássico dos ingleses. Os membros do Pearl Jam nunca
esconderam a admiração que nutrem pelo Zeppelin, inclusive, citando-o entre
suas influências musicais, assim como as bandas: The Who, The Doors, os punks
do Ramones, Jimi Hendrix, e Neil Young.
Mas
polêmicas à parte, o repertório reservou espaço ainda para as baladas
açucaradas, como Betterman, do álbum Vitalogy (que considero uma bela canção
e um grande álbum). Neste momento fui remetido ao ano de 1994 ou 1995, quando
ouvi pela primeira vez uma canção do Pearl Jam. Foi Betterman, o disco Vitalogy
me causou profunda impressão. O disco havia sido dado de presente a Marcelo por
um amigo. A arte do disco era primorosa e as músicas idem. Eu nunca
havia ouvido alguém cantar daquela forma, então a identificação foi imediata.
Fui em busca de outros discos da banda e logo adquiri Ten, que era ainda melhor que Vitalogy.
A maneira de Vedder cantar estava ainda mais visceral neste disco. Vedder deve
muito de seu estilo vocal à voz de barítono de Jim Morrison, líder dos
Doors.
Eddie Vedder (Foto: Site Bol) |
Pouco
depois, comecei a fazer aulas de violão clássico, com a intenção de passar para
a guitarra assim que tivesse adquirido mais domínio sobre a teoria musical.
Estudei violão por um ano. Eu estava decidido a possuir uma banda, mas que,
infelizmente, não foi para frente devido à nossa inépcia – eu e meus dois
colegas -, e falta de talento como músicos, porém ficou a admiração pelos meus
heróis da adolescência, com suas letras autobiográficas (uma boa parte das
letras de Vedder pode ser categorizada desta forma), pela técnica vocal apurada
deste e os solos virtuosos de Mike McCready, claramente influenciados por Jimi
Hendrix.
Agora
voltando ao palco, McCready não decepcionou um só momento, dando um show à
parte. O guitarrista, como sempre reparei em apresentações assistidas pelo Youtube©
e pela TV, não erra uma só nota, e toca exatamente como se estivéssemos ouvindo
um CD da banda. Fato também apontado por minha prolixa acompanhante, Aline.
Infelizmente, esse tipo de problema acontece com muitos músicos ao se
apresentarem ao vivo, conheço várias pessoas que já se disseram decepcionadas
com seus ídolos ao vê-los ao vivo, devido a não corresponderem a suas
expectativas, por não serem bons músicos ou por não terem presença de palco. A
idade (49 anos) não diminuíra em nada o talento e o feeling de McCready, e nem de seus colegas de banda.
Stone
Gossard, 49, com sua discreta guitarra rítmica, apresenta seu groove em várias canções. Sua
contribuição para o som da banda pode ser percebida nas canções com influência
do estilo musical funk, o americano, e não o brasileiro, que são bem diferentes.
Jeff Ament, 53, é outro membro discreto da trupe, seu baixo é pouco ouvido,
devido à utilização de três guitarristas sobra pouco espaço para seu
instrumento se destacar, com exceção de algumas canções, onde ganha mais
espaço. A introdução de Jeremy, por
exemplo, toda focada no baixo, é icônica.
Eddie
Vedder também impressionou no show por sua vitalidade, apesar de seus 51 anos,
o cantor, multi-instrumentista e principal compositor da banda, desculpem o
clichê, mas “ainda tem muita lenha para queimar”. Vedder vem de bem sucedidos
trabalhos solo, compôs a trilha do filme Na
Natureza Selvagem (Into the Wild, 2008), do diretor Sean Penn. Além de seus
dois discos solo, que obtiveram boa acolhida da crítica, Water on the Road (2008) e Ukulele
Songs (2011).
O
nome Pearl Jam veio de uma referência à vida pessoal de Eddie Vedder, que tinha
uma bisavó chamada Pearl (Pérola), que era casada com um índio americano, e que
fazia uma geléia alucinógena, com peiote entre seus ingredientes, apelidada
pela família de “Geléia de Pérola”. Em 2006, o vocalista admitiu em uma
entrevista para a revista Rolling Stone
que essa história era mentira, embora sua bisavó se chamasse mesmo Pearl. O PJ
nasceu de uma banda anterior, que encerrou suas atividades devido à morte do
vocalista por overdose de heroína, a banda era o Mother Love Bone, e o vocalista
era Andrew Wood. O grupo surgiu em 1990. Todos os membros da banda residiam em
Seattle, Washington.
A
Seattle da década de 90 foi onde floresceu o movimento grunge, que surgiu na
década anterior, mas só ganhou visibilidade internacional nos anos 90. O termo
“grunge” significa, em tradução livre, “sujo”. O termo foi utilizado pela
primeira vez em 1981 por Mark Arm, vocalista do Green River, que depois iria
fundar o Mudhoney. Arm se referia à banda Mr. Epp and the Calculators,
citando-a de forma pejorativa em uma carta que enviou a um veículo de
comunicação.
O
movimento foi encabeçado por bandas como Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden
e o próprio Pearl Jam. As letras das canções retrataram uma geração dominada
pela apatia, angústia e pelo abuso de drogas. O grunge, ou som de Seattle, era
um subgênero do rock alternativo que sofreu influência do punk, do heavy metal
e do indie rock. Bandas como Pixies, Dinosaur Jr., Goo Goo Dolls, Sonic Youth,
Led Zeppelin, Black Sabbath, Butthole Surfers e Bauhaus tiveram forte
influência no gênero musical. O estilo era caracterizado como possuindo um
andamento arrastado, muita distorção nas guitarras e som cru.
Os
dois discos seminais do movimento foram o Nevermind (1991), do
Nirvana, e o Ten, do PJ, do mesmo ano. O single Smells Like Teen
Spirit, do Nirvana, abriu as portas para a histeria grunge que tomou as
rádios e a MTV no início da década de 90. Seattle passou a ser considerada a
nova Meca para onde todos os roqueiros peregrinavam em busca do sucesso comercial.
A cidade foi apelidada pela revista Rolling Stone como “a nova
Liverpool”, em referência à cidade inglesa que foi o berço de bandas como os
Beatles.
Kurt
Cobain (líder do Nirvana) sentia-se incomodado com a fama, assim como Eddie
Vedder. Ambos passaram a sabotar o próprio sucesso com atitudes
anticomerciais, que desabonavam suas respectivas bandas diante da mídia e dos
fãs.
Em 1994,
Cobain foi encontrado morto em sua casa com um ferimento à bala na cabeça, especula-se
até hoje se foi suicídio ou se uma das diversas teorias conspiratórias
explicariam o fim do líder do Nirvana. Sua banda se desfez logo após esse
fato. Cobain fora apelidado pela revista Time como “o John Lennon do
oscilante noroeste”. Após a morte de Cobain, o baterista e multi-instrumentista
do Nirvana, Dave Grohl, 47, formou o Foo Fighters, que segue agradando os
amantes do barulho pelo mundo.
O
Soudgarden recentemente retomou suas atividades depois de um hiato de sete
anos. Neste período, o vocalista Chris Cornell, 51, formou junto com os
ex-membros do Rage Against the Machine a banda Audioslave, que fez sucesso nas
rádios do planeta todo. Mas o projeto chegou ao fim devido a conflitos internos
e Cornell retomou seu posto junto a seus parceiros de Soundgarden.
O
Alice in Chains também retomou sua carreira depois da trágica morte de seu
vocalista Layne Staley, de overdose de heroína, em 2002. Agora com o cantor
William Duvall ocupando o lugar de Staley. Assim como Andrew Wood, Staley foi
mais uma vítima da heroína. Wood deixara seus companheiros de Mother Love Bone
sem seu frontman.
Mas
retomando a história da formação do PJ, os dois integrantes remanescentes do
Mother Love Bone, o baixista Jeff Ament e o guitarrista Stone Gossard decidiram
montar um novo conjunto. Gossard convidou seu amigo, o guitarrista Mike
McCready, que estava sem banda, então os três gravaram uma fita demo. Depois a
enviaram ao ex-baterista do Red Hot Chili Peppers, Jack Irons. Que conhecia um
vocalista de San Diego, chamado Eddie Vedder. Eles enviaram uma fita com cinco
músicas para o cantor/surfista/budista da Califórnia. Ele colocou letras e o
vocal em três músicas e enviou a fita de volta a Seattle. As gravações
impressionaram Gossard, McCready, Ament e Irons, então eles o convidaram a se
juntar ao novo projeto.
No
mesmo ano, Chris Cornell, do Soundgarden, abordou Gossard e Ament com duas
músicas que ele havia composto em tributo a seu amigo Andrew Wood. Ele queria
lançá-las comercialmente. O Temple of the Dog lançou um único disco, com Vedder
dividindo os vocais com Cornell e todos os futuros integrantes do Pearl Jam
acompanhando, menos o baterista Jack Irons. Em seu lugar, quem tocou a bateria
foi Matt Cameron, do Soundgarden, e o atual dono das baquetas do PJ.
Desde
1991, quando ocorreu o estrondoso sucesso de Ten, o primeiro álbum do grupo, no auge do movimento grunge,
passaram pela banda os bateristas Dave Krusen, Dave Abruzzese, e houve um
retorno de Irons a seu posto, mas logo deixou novamente o grupo, então Cameron
entrou para a formação, ele agora se divide entre o Soundgarden e o Pearl Jam.
Hoje, a banda excursiona com mais um integrante, o tecladista havaiano Boom
Gaspar, de 63 anos.
Outros
fatos dignos de nota sobre a banda foram sua batalha contra a Ticketmaster e
por ter restringido as entrevistas para a imprensa e a recusa em produzir
videoclipes no auge da fama. A Ticketmaster é a empresa que controla as vendas
e distribuição de ingressos de shows nos EUA, a companhia possui o monopólio
deste mercado. Durante a turnê do disco Vs., o PJ, para evitar as ações dos cambistas, estipulou um limite para os preços
dos ingressos de seus shows. A banda se enfureceu ao saber que a Ticketmaster
havia adicionado uma taxa de serviço ao valor dos ingressos de seus shows em
Chicago. Prática comum no Brasil também.
A
Ticketmaster vinha sendo investigada pelo Departamento de Justiça dos Estados
Unidos, que pediu ao PJ para criar um memorando descrevendo sua relação com a
empresa. Gossard e Ament foram convocados para depor em um subcomitê de
investigação em Washington, D.C. A banda começou a boicotar a Ticketmaster, e passou a se recusar a tocar em locais que possuíssem contrato com a empresa, além de cancelar sua turnê de 1994.
Neste
período, a banda reduziu seus esforços promocionais, após o imenso sucesso do
premiado vídeo de Jeremy, o PJ decidiu não produzir videoclipes para os
singles de V.S. Esta recusa é justificada pelos músicos como uma forma
de não tirar do ouvinte o prazer de imaginar cenas ligadas à canção que está
tocando. Já que os vídeos impõem ao fã as imagens interpretadas pela visão do
diretor da obra. Anteriormente, durante a divulgação de Ten, o grupo já
havia recusado-se a produzir um vídeo para a balada Black, apesar da
pressão da gravadora.
Durante o show no Morumbi ouvimos ainda outras
baladas, como a canção anteriormente citada, a clássica Black (Ten), além de Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town, (Vs., 1993). Foi
tocada também Sirens, do mais recente
álbum da banda, Lightning Bolt, de 2013. Yellow Ledbetter, lado B do single
de Jeremy. Outra
opinião pessoal, odeio a balada Last Kiss,
do álbum Lost Dogs: Rarities and B Sides,
de 2003, ainda bem que eles não a tocaram, apesar de ser um grande hit da banda.
A
execução desta leva de canções românticas motivou mais um comentário de Aline,
que brincou: “A mulherada toda
melando as calcinhas!”. Para quem não entendeu a piada, trata-se de uma
referência à gíria “mela cueca”, utilizada para se referir ao efeito causado
por músicas lentas e de temática amorosa.
Como
já vinha sendo ameaçado há horas pelo céu nublado, no meio do show começou uma
chuva que durou quarenta minutos, aproximadamente, deixando todos no estádio
ensopados, poças surgiram nas cadeiras, pois havia muita gente de pé devido à
empolgação de assistir à banda ao vivo. Inclusive nós. Por sorte havíamos comprado
capas de chuva na entrada do estádio. Houve ainda uma paralisação do show por
dez minutos devido a problemas técnicos.
O palco visto da arquibancada. (Foto: Laila Araújo Coelho) |
O
show durou impressionantes 3h10, com direito a vários bis, os músicos não demonstravam nenhum cansaço, e o público se
manteve firme até o grand finale. Que
foi apoteótico, com a execução da agitada Rockin´in
the Free World, mais uma parceria com Neil Young. Foi marcante também o cover de Imagine, de John Lennon, com direito a coro do público, motivado
pelos atentados terroristas contra a França, ocorridos um dia antes da
apresentação do PJ, bem de acordo com a letra pacifista de Lennon.
Os
ataques terroristas na cidade de Paris (França), causaram comoção no mundo
todo, ocorreram no dia 13 de novembro em Paris e Saint-Denis. Os atentados se
caracterizaram por ataques suicidas, explosões e uso de reféns. Ocorreram três
explosões e seis fuzilamentos de civis. O ataque mais marcante foi no teatro
Bataclan, onde terroristas fizeram vítimas e pegaram pessoas como reféns, a
ação durou até a madrugada de 14 de novembro.
O atentado terrorista ocorreu durante a apresentação da banda norte-americana Eagles
of Death Metal. Estima-se que morreram 129 pessoas, dentre elas 8 terroristas,
e 89 pessoas no Bataclan. Mais de 350 civis ficaram feridos, 99 em estado
grave. Os ataques foram perpetrados pelo famigerado grupo terrorista Estado
Islâmico do Iraque, o grande câncer do mundo moderno, em retaliação à
intervenção militar francesa na Síria e no Iraque. Eddie Vedder deu a seguinte
declaração (em português) durante o show sobre os atentados:
“Muito obrigado a todos por estarem aqui. Sentimos que precisamos
estar com pessoas hoje e estamos felizes por estarmos com vocês em São Paulo.
Nosso amor vai para Paris. Temos ainda muito a entender e superar juntos”.
O
outro cover da noite foi All Along
the Watchtower, de Bob Dylan,
inspirado pela versão feita por Jimi Hendrix da música, que encerrou o show de
forma apropriada e em grande estilo. Foi um belo apanhado da carreira da trupe,
que possui 10 álbuns de estúdio, em uma longa carreira que já dura 25 anos.
Antes de vir a São Paulo, a turnê brasileira passou por Porto Alegre (11). Após
o show no Morumbi foram para Brasília (17), Belo Horizonte (20) e Rio de
Janeiro (22).
Só
uma curiosidade sobre a turnê brasileira, ela ocorreu na época da tragédia
ambiental em Mariana. Durante o show em BH, Vedder discursou e prometeu doar o
cachê da apresentação às vítimas do desastre. Eis o link para a notícia
sobre a apresentação da banda.
Nos retiramos
do estádio rapidamente e, por sorte, conseguimos imediatamente uma condução. Um
ônibus passava na mesma hora em que atravessávamos a avenida. Pegar um táxi
para o apartamento iria sair uma fortuna. Na volta para casa peguei uma grande
briga com Laila, por motivos que não pretendo declinar, pois assuntos de casal
só dizem respeito aos envolvidos. O que interessa é que logo fizemos as pazes e
fomos para o apartamento de Marcelo. Ele se encontrava no apartamento de um
amigo que vive no mesmo prédio. Aline foi trazê-lo de volta para casa e nós
fomos para a residência do casal para jantar e dormir.
O DIA DA VOLTA PARA CASA (15/11/2015)
Após
uma merecida noite de sono, acordamos tarde, tomamos o café da manhã e partimos
quase imediatamente para o aeroporto. Durante o trajeto mantivemos uma conversa
mais para passar o tempo do que para qualquer outra finalidade, enquanto nos
dirigíamos ao nosso destino. Ao chegar, tiramos fotos, todos os quatro. Nos
despedimos e, logo Laila e eu estaríamos embarcando para Fortaleza.
Da direita para a esquerda: Eu, Laila, Aline e Marcelo. (Foto: Laila Araújo Coelho) |
No
aeroporto, tiramos mais fotos, liguei para meus pais para nos apanharem no
aeroporto, comemos algo e, desta vez, sem atrasos, embarcamos. No avião,
lanchamos novamente. Eu tentei tirar um cochilo e não consegui. Nas pequenas
televisões dentro do avião passava um episódio da série americana de comédia Friends, que esteve no ar de 1994 a 2004, e continua a ser reprisada em um canal a cabo. Laila e eu mantivemos um
diálogo sobre os personagens e seus intérpretes dentro da série de TV. Eu disse
que sonhava em viver dentro do mundo daqueles personagens fictícios e ingênuos,
que eram todos amigos uns dos outros, além de jovens, bonitos, felizes, e sem
grandes conflitos em suas vidas. Um verdadeiro mundo perfeito.
Chegamos
em Fortaleza dentro do horário preestabelecido, no final da tarde. Danilo
Fontenele, meu pai, nos aguardava no aeroporto. Ao chegarmos ao meu apartamento,
Laila logo quis ir para sua casa e eu fui deixá-la em sua residência.
Esse
texto é dedicado ao escritor estadunidense David Foster Wallace (1962-2008),
leitura sem a qual esse relato não teria sido possível de ser realizado. Seus
textos de não-ficção foram uma grande inspiração na forma como esse relato foi
construído. Assim como as narrativas gonzo de Hunter S. Thompson (1937-2005),
as digressões das reportagens literárias do novo jornalista Gay Talese (1932-
), e as matérias da revista eletrônica Vice.
SET LIST DO SHOW NO MORUMBI:
1. Long Road
2. Of the Girl
3. Love Boat Captain
4. Do the Evolution
5. Hail Hail
6. Why Go
7. Getaway
8. Mind Your Manners
9. Deep
10. Corduroy
11. Lightning Bolt
12. Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
13. Even Flow
14. Come Back
15. Swallowed Whole
16. Given to Fly
17. Jeremy
18. Better Man
19. Rearview mirror
1° bis
20. Footsteps
21. Imagine (cover de John Lennon)
22. Sirens
23. Whipping
24. I Am Mine
25. Blood
26. Porch
21. Imagine (cover de John Lennon)
22. Sirens
23. Whipping
24. I Am Mine
25. Blood
26. Porch
2° bis
27. Comatose
28. State of Love and Trust
29. Black
30. Alive
31. Rockin' in the Free World (cover de Neil Young)
32. Yellow Ledbetter
33. All Along the Watchtower (cover de Bob Dylan)
28. State of Love and Trust
29. Black
30. Alive
31. Rockin' in the Free World (cover de Neil Young)
32. Yellow Ledbetter
33. All Along the Watchtower (cover de Bob Dylan)
OS
ÁLBUNS DE ESTÚDIO DO PEARL JAM:
Ten
(1991)
Vs.
(1993)
Vitalogy (1994)
No Code (1996)
Yield (1998)
Binaural (2000)
Riot Act (2002)
Pearl Jam (2006)
Backspacer
(2009)
Lightning Bolt
(2013)