Por Eduardo Fontenele
Dia 8 de
dezembro completou 34 anos da morte do ex-Beatle
e ativista político inglês John Lennon. O músico tinha 40 anos na época e
estava separado dos parceiros de banda há uma década. Após o rompimento com o
grupo, devido ao envolvimento amoroso com a artista plástica de vanguarda
japonesa Yoko Ono (81), Lennon foi viver em Nova Iorque e engajou-se em causas
humanitárias e sociais. Tornou-se um dos principais críticos do governo de
Richard Nixon (1913-1994) e da Guerra do Vietnã (1955-1975). Lennon era
investigado pelo FBI.
Quando Lennon
conheceu Yoko, em 1966, estava casado com sua primeira esposa, Cynthia Powell
(75), ela pediu o divórcio alegando infidelidade de Lennon. John e Yoko
casaram-se em 1969, em Gibraltar, e durante a lua de mel, promoveram o protesto
chamado de Bed-in, que não foi bem
compreendido pela imprensa e ridicularizado pelos jornalistas. O protesto
pacífico consistia em o casal permanecer deitado em sua cama durante uma semana
e autorizar a entrada da imprensa em seu quarto de hotel em Amsterdam para
falar sobre o fim da Guerra do Vietnã. Estavam se utilizando da forte
repercussão que o ato teria sobre a mídia mundial.
Foram acusados
de estarem buscando publicidade para suas carreiras. John respondeu que poderia
compor uma música em uma hora e fazer mais dinheiro do que ficando sete dias
deitado em uma cama. O casal repetiu o ato em um hotel em Montreal.
Lennon
tornou-se ativista da extrema esquerda. Apoiou o Partido dos Panteras Negras.
Especula-se que tenha feito doações em dinheiro para financiar ações do IRA,
apesar da fama de ser um ativista ligado ao pacifismo, portanto, contrário a
atos violentos, como os do IRA. Na canção Sunday
Bloody Sunday, Lennon se revelou simpático à causa do Exército Republicano
Irlandês.
Entre todas
essas atividades, Lennon ainda tornou-se um bem sucedido compositor e músico
solo. Trocou farpas com Paul McCartney (72) em suas composições. Apareceu nu,
junto com Yoko, na capa do álbum experimental Two Virgins, de 1968. Ele e Yoko fizeram uma parceria de sucesso na
música. O músico compôs clássicos como Give
Peace a Chance, Imagine (em
parceria com Yoko), Beautiful Boy, Mother, Woman; regravou com sucesso Stand
By Me, de Jerry Leiber, Mike Stoller e Ben E. King.
Beautiful Boy
foi composta para homenagear Sean, seu filho predileto. A música pertence ao
álbum Double Fantasy, de 1980, último
disco do ex-Beatle. Afirma-se que
Lennon foi um péssimo pai para Julian (51), seu primogênito, fruto de sua
relação com Cynthia. Mas deu uma pausa de cinco anos na carreira para
acompanhar o crescimento de seu segundo filho, Sean (39), este com Yoko.
Lennon e as drogas
George Harrison
(1943-2001), antigo companheiro de banda de John, acusou Yoko de ter
introduzido John no vício da heroína para afastá-lo dos antigos parceiros. John
e Yoko chegaram a passar um mês inteiro sob o efeito da droga. Lennon deu
crédito de seu vício às pressões diárias do sucesso e ao fato de outras pessoas
não aceitarem seu relacionamento com Yoko. Ele e Yoko chegaram a ser presos por
porte de drogas
O astro
precisou se afastar de Nova Iorque, e fazer uma longa viagem, acompanhado
apenas por um amigo, para se livrar do vício e de seus fornecedores de drogas.
Lennon ainda declarou-se publicamente a favor do uso da maconha. Lennon tornou-se
dependente de álcool durante o período de 18 meses em que esteve separado de
Yoko.
O dia fatídico
Lennon foi
assassinado a tiros pelo fã Mark Chapman. Chapman disparou cinco tiros de seu
revólver calibre 38, dos quais quatro atingiram Lennon. O músico e sua esposa
voltavam para seu apartamento no edifício Dakota, em frente ao Central Park, em
Nova Iorque, quando foram surpreendidos pelo assassino. Chapman havia abordado
o músico mais cedo para lhe pedir que autografasse seu exemplar do LP Double Fantasy.
Chapman, hoje
com 59 anos, alegou que cometeu o crime porque queria ficar famoso e devido à
blasfêmia de Lennon, quando disse a polêmica frase que os Beatles eram mais famosos que Jesus. Em 1966, no auge da Beatlemania, John declarou: “O
cristianismo vai desaparece e encolher. Eu não preciso discutir isso, eu estou
certo e eu vou provar. Nós somos mais populares que Jesus agora. Eu não sei
qual será o primeiro – o rock ‘n’ roll
ou o cristianismo. Jesus estava certo, mas seus discípulos eram grossos e
ordinários.”
Chapman, que
sofre de alucinações auditivas, se inspirou no personagem Holden Caulfield, do
romance O Apanhador no Campo de Centeio (1951),
do escritor americano J. D. Salinger (1919-2010). Chapman segurava o livro
durante o crime e não tentou fugir ou resistir quando os policiais chegaram.
Foi condenado à prisão perpétua.
Teoria da conspiração
Existe uma
teoria conspiratória sobre um complô envolvendo a CIA, o FBI e o MI5 na morte
do músico. As teorias falam que Chapman teria sido recrutado por um programa de
controle da mente executado pelo serviço secreto e pelo governo Republicano que
se instalara na América do Norte no início da década de 80. Os conspiradores
precisavam de um bode expiatório, de um “testa de ferro”, um “laranja”.
Estes órgãos
supostamente viam Lennon como uma ameaça. Tinham medo que o ídolo influenciasse
a juventude americana com seu radicalismo de esquerda. Por isso manipularam um
cidadão comum (Chapman) para que executasse o assassinato, como já haviam feito
com líderes como Martin Luther King e Kennedy. Nada ficou comprovado até hoje.
O assassino no cinema
Mark Chapman ganhou,
em 2007, uma cinebiografia intitulada Capítulo
27, dirigida por J. P. Schaefer e protagonizada pelo ator e cantor Jared
Leto, que teve de engordar quase 30 quilos para viver o assassino. O título da
obra refere-se ao livro O Apanhador no
Campo de Centeio, cujo capítulo final é o 26. O capítulo 27 não consta no
romance. Chapman costumava declarar, na época, que seu nome era Holden
Caulfield, o protagonista do romance.
Outra
interpretação para o título do filme seria a obsessão que Lennon tinha pelo
número 9 e seus múltiplos. O cantor era obcecado por numerologia. Ele nasceu em
9 de outubro. Seu filho Sean também. Yoko nasceu em 18 de fevereiro. Paul
MacCartney (seu parceiro musical) nasceu em 18 de junho. Lennon escreveu as
músicas Revolution 9, Number 9 Dream e One After 909. O cantor morreu às 23 horas, de 8 de dezembro de
1980, mas na Inglaterra, seu país de origem, devido ao fuso horário, já era 9
de dezembro.
Homenagens
Lennon recebeu
uma Estrela na Calçada da Fama de Hollywood, em 1988. Foi criado um memorial
chamado Strawberry Fields Forever no
Central Park, em frente ao edifício Dakota. Também foi considerado por uma
pesquisa da BBC o oitavo entre os 100
britânicos mais importantes de todos os tempos. Em 2008, foi eleito pela
revista Rolling Stone o 5º melhor
cantor de todos os tempos e o 55º melhor guitarrista de todos os tempos por
essa mesma publicação.
God
O título deste
texto é uma citação retirada da canção God,
composição de Lennon, onde ele se revela descrente em ídolos e em qualquer tipo
de salvação, seja ela por meio de um messias, de um herói criado pela mídia ou
pela cultura de massa. Ele também comenta sobre o fim dos Beatles. O astro afirma ainda não acreditar em nenhuma religião ou
ideologia, nem mesmo num futuro. A canção retrata um Lennon desiludido e
amargurado que só acredita no amor que sente por Yoko.
Veja a tradução
da letra de God aqui: