Por Laila Araújo Coelho
Depois
de sete anos exilado nos Estados Unidos (motivo desconhecido), acabou
resultando no seu primeiro trabalho depois da investida em “Little Joy”. O novo
álbum tem clara evidência da herança deixada pela sua ex-banda, Los Hermanos. É
um álbum para poucos, aliás, é para ser ouvido sozinho (a), no silêncio, em uma
fuga talvez.
Na
faixa Irene, ele fala da saudade (do Brasil?!?), como uma lembrança que volta e
meia o assombra. Essa assombração é de um amor que ele não consegue esquecer,
mas que ainda está lá, não é necessariamente uma “mulher”, pode ser um lugar,
um livro, até mesmo uma viagem inesquecível. Amarante a descreve também como
sendo uma homenagem a Irene de Caetano Veloso. “Saudade, eu te matei de fome/ E
tarde, eu te enterrei com a mágoa/ Se hoje eu já não sei teu nome/ Teu rosto
nunca me deu trégua”. Irene é tão linda, tão bossa, tão melancólica.
Nada
em Vão, a primeira que abre o disco foi à última a ser feita, ela nem ia
entrar, mas fala justamente do espaço que existe entre duas pessoas, tenta
medir essas lacunas em melodias, já que ela tem espaços enormes. “Quando eu
vejo você / Me olhando assim / Vendo em mim / O que eu vejo em ti/ Qual razão/ É
medir o imenso da sede/ Se cede o senso/ À sensação”.
Ele
fala do exílio, em “Tardei”, última faixa, quando se pergunta: “Onde está o meu
lugar?”. Responde de forma misteriosa, até sombria, “Desceu pelo rio/ Da terra
pro mar/ Um fio de prata que me leva”. Esse fio de prata é muito realismo
fantástico.
A
minha favorita é a que leva o nome do álbum, Cavalo. Meio sobrenatural, parece
um sonho febril, delírio, ela é mística. Ele faz uma homenagem à arte japonesa,
com o lance do poema no meio da música. O véu de cal que ele se refere é a
neve, de um filme antigo do Kurosawa, em que alguns homens ficam perdidos na
neve ao tentar encontrar um acampamento. Uma mulher em forma de tempestade
acolhe um deles, ela significa a morte e quando o sol se abre ele morre. “De
espuma prata e sal/ A bruma no areal/ Um véu de cal/ O fogo frio/ No cio”.
Ainda
há referências literárias em “Mon Nom” ao escritor Camus. A presença de outros
idiomas pode ser entendida como a distância que Amarante estava do Brasil,
levando a entender que o disco faz parte desse tempo que ele passou fora. É um
disco amargo e solitário, como parece que foi a estadia do músico em outro
país.
FAIXAS
1. Nada
em Vão (00:03:05)
2. Hourglass
(00:03:32)
3. Mon
Nom (00:04:08)
4. Irene
(00:03:17)
5. Maná
(00:02:39)
6. Fall
Asleep (00:03:19)
7. The
Ribbon (00:04:49)
8. O
Cometa (00:02:52)
9. Cavalo
(00:02:36)
10. I´m
Ready (00:03:49)
11. Tardei
(00:03:35)
ARTISTA:
RODRIGO
AMARANTE
ÁLBUM:
CAVALO
GÊNERO: FOLK/ROCK
ANO:
2013