“Trabalhando
duro/Agachado no seu pé de
ervilha/Arando através de seu
pé de feijão/Plantando minha
semente” (“Sex
Farm”. The is Spinal Tap,
1984)
Desde
o advento do som no cinema na década de 20 e a inclusão do som
digital nos anos oitenta, muita coisa mudou na maneira de como se
inserir a trilha sonora nos filmes.
Tudo
começou com o filme O
Cantor de Jazz
(The Jazz Singer, 1927, EUA), que é considerado como o primeiro
filme falado e cantado no cinema, na verdade sempre teve falas nos
filmes, funcionava assim: enquanto o filme era exibido, atrás da
cortina ficava alguma atriz ou ator que dublava as falas ao vivo,
meio estranho, mas era assim que faziam.
O
ator Al Jolson, que interpreta o cantor do título, Jack Robin, que
sonhava em ser famoso é o protagonista deste que é considerado o
primeiro filme exibido em grande escala no cinema. O sucesso do filme
foi tanto que Jolson se tornou cantor, no Youtube encontram-se
algumas de suas canções. Além de ser o primeiro filme cantado, foi
o primeiro com um personagem fictício musical que apareceu nos
cinemas e que depois continuou com a carreira jazzística.
Várias
bandas fictícias foram criadas para fazer parte da história de
inúmeros filmes e, algumas eram tão boas que saíram das telas e
seguiram com carreira solo. Estamos falando da banda mais falsa de
todas, mas que deveria existir, sem bem que eles existem, do jeito
deles: Spinal Tap.
Em
1984 é lançado o sátiro documentário ou
se assim preferirem, “mockumentary”
This
is Spinal Tap,
dirigido pelo ator Rob Reiner, de O Lobo
de Wall Street
(2013). Tudo
intercalado com entrevistas e depoimentos dos integrantes do Spinal.
Eles
seguiam a mesma fórmula de outros documentários de rock, como A
caminho do leste (1967),
Let
it Be
(1970) e
O
último concerto de rock (1978).
Produzido
por Marty Di Bergi (Reiner), que conta
a trajetória da banda Spinal Tap e a sua turnê no
ano de
1982, para a divulgação do seu novo álbum Smell
the Glover
(só para lembrar, a capa deste álbum foi polêmica e provocou
discussão entre eles, é que a capa trazia uma mulher nua usando
apenas uma coleira de cachorro e era obrigada a cheirar
uma luva!). Bobbi
Flekman chega a questionar Ian sobre a capa: “Ian, você pôs uma
mulher nua, de quatro, com o corpo besuntado e uma coleira no
pescoço, uma correia, o braço de um homem estendido até aqui
segurando a correia e empurrando uma luva negra contra seu rosto,
obrigando-a a cheirá-la. Você não acha isso ofensivo?”.
A
banda foi formada por dois amigos de infância David St. Hubbings
(Michael McKean) e Nigel Tufnel (Christopher Guest) nos anos
sessenta, antes eles tocavam no The Originals, que não deu muito
certo, pois já existia uma banda com esse nome. O primeiro single,
já no Spinal Tap foi “Flower
Power”,
o título se popularizou porque fazia parte da luta contra a guerra
do Vietnã (essa parte é verdade), só que o ponto forte deles
sempre foi o heavy
metal.
Um
dos baixistas que se destacou
foi Derek Smalls (Harry Shearer), que sempre acompanhou a banda, sua
marca registrada é cachimbo que ele fuma e o pepino devidamente
acomodado em suas calças (para
aumentar o “volume”),
participou recentemente da turnê One
Night Only World Tour,
em Londres (fato verídico). Tinha também Viv Savage (David Kaff)
que infelizmente morreu na explosão do túmulo do ex-baterista
Mick Shrimpton (RJ Parnell), ele tinha ido lá prestar uma última
homenagem ao amigo, que coincidentemente também havia explodido no
palco.
Porém,
a morte sempre rondou os metaleiros do Tap, muitos de seus músicos
tiveram um final trágico, para falar a verdade, bizarro é o nome,
que vai desde combustão espontânea no palco, sufocamento através
do vômito de outra pessoa, acidentes enquanto praticavam jardinagem,
(sobre algumas mortes a polícia não quis se manifestar de tão
misteriosa que foi), enfim, é Spinal Tap. A perda mais recente foi
de Chris "Poppa" Cadeau, em 2008, ele foi engolido pela sua
cobra de estimação.
O
Spinal Tap assim como várias bandas de Rock, tiveram problemas com o
seu produtor musical: Ian Faith (Tony Hendra), foi ele que liberou a
capa totalmente preta de Smell
the Glover,
eliminando a original, o fato é que o disco não fez sucesso e para
piorar Jeanine Pettibone
(June Chadwick) namorada de Hubbings, começa interferir na maneira
como a banda se veste e passa
a frequentar
as reuniões da banda (a Yoko Ono do Tap), originando
desconforto entre os outros membros. David
chegou ao cúmulo de sugerir que ela gerenciasse os negócios da
banda. Provocando ciúme
em Faith, que
dizia que ela se vestia como um pesadelo australiano, afinal
eles eram melhores amigos.
A
sua saída da banda foi marcada pelo incidente com a estátua gigante
de Stonehenge, Faith se confundiu com o tamanho do pedido feito pela
banda, acabou entregando uma miniatura de 18 centímetros, que
poderia ser esmagada por um anão, causando
constrangimento em todos, eles queriam no palco uma que medisse 18
metros.
Depois
da morte de Shrimpton e do quase afastamento de Tufnel, a banda
descobre que “Sex
Farm”
é
muito popular no Japão ficando em quinto lugar nas paradas, graças
ao trabalho de Ian Faith. Depois
de repassar algumas mensagens de Ian, Nigel fica na coxia para espiar
a apresentação de despedida da banda, quando David
então resolve chamá-lo novamente ao grupo e a
banda
parte para uma nova turnê dessa vez na terra do sol nascente. É
a volta do metaleiro deus do rock.
Piadas
a parte, McKean, Guest e Shearer tocam e cantam de verdade em todo o
filme, This
is Spinal Tap
fez tanto sucesso, que pouco tempo depois eles acabaram se reunindo e
fazendo apresentações em ocasiões sérias, como em 1992 no Tributo
para o cantor Freddie Mercury, em que eles tocaram “The
Majesty of Rock”,
para Mercury, falecido um ano antes. Já se apresentaram em Festivais
de música, Concertos, comercial para televisão (foi para Volkswagen
e tinha Nigel Tufnel), aparições nos programas de Jay Leno, Conan
O'Brien
e Jimmy Fallon .
Alguns
músicos se identificaram com a falsa banda, como
Ozzy
Osbourne
declarou que: “Depois
de assistir à cena ´Stonehenge´… eu pensei: por que não
representar um anão no palco”.
Jimmy Page e Robert Plant alegaram que assim como o Tap, também se
perderam no caminho para o palco durante algum show (eles não
conseguiam achar a entrada que dava para o palco). Glenn Danzig,
comentou que eles se pareciam com sua antiga banda. Steven Tyler,
líder do Aerosmith, não viu a menor graça quando assistiu
ao documentário.
Já
Edge, guitarrista do U2 chorou de ri quando os viu na tela pela
primeira vez. O conhecido álbum preto do Metallica, é uma
“homenagem” prestada para a banda, em comparação com a cor do
Smell.
Até
hoje a banda é respeitada no meio artístico, por músicos,
diretores de cinema, servindo de referência em um cenário real e
fictício do mundo da música e tem
uma legião de fãs espalhados pelo mundo, muitos
fãs sabem decoradas as falas do filme.
Com a vida levada nas telas dificilmente eles teriam sobrevivido se
fossem
uma banda verdadeira. A
história criada por Rob Reiner é absurdamente exagerada de como
vivem os roqueiros. Mas
serviu de inspiração para a criação de um novo gênero,
A
bruxa de Blair
(1999);
Bob
Roberts (1992);
e
a franquia recente Atividade
Paranormal
(2007);
seguiram a mesma
cartilha,
mas
acabaram se
tornando lugar-comum.
Ainda
há as inúmeras participações especiais, que contam com Bruno
Kirby, que faz um fã ardoroso de Frank Sinatra e ao mesmo tempo é
um motorista de limusine, a comediante Fran Drescher é a
publicitária Bobbi Flekman e as pequenas, mas não menos discretas
performances de Billy Crystal e Dana Carvey, que são garçons
e
mímicos,
mímica
vale dinheiro.
Horas
de gravações que se tornaram extras, são negociadas pelos
colecionadores/aficionados da
banda, que ficou de fora na edição feita por Reiner. This
Spinal Tap é clássico cult que merece ser visto
por quem gosta música, cinema e por quem pensa em montar uma banda.
FICHA
TÉCNICA
EUA
(SPINAL TAP PROD.)
Direção:
Rob Reiner.
Elenco:
Rob Reiner, Kimberly Stringer, Chazz Domingueza, Shari Hall, R. J.
Parnell, David Kaff, Tony Hendra, Michael McKean, Christopher Guest,
Harry Shearer, Bruno Kirby, Jean Cromie, Patrick Maher, Ed Begley Jr.
e Danny Kortchmar.
Produção:
Karen Murphy.
Roteiro:
Christopher Guest, Michael McKean, Rob Reiner e Harry Shearer.
Fotografia:
Peter Smokler.
Música:
Christopher Guest, Michael McKean, Rob Reiner e Harry Shearer.
Cor.
Duração:
82 min.